O que significa o fato de Deus ser soberano?

A soberania de Deus é um dos princípios mais importantes da teologia cristã, bem como um dos mais debatidos. Se Deus é ou não de fato soberano geralmente não é um tópico de debate; todas as principais seitas cristãs concordam que Deus é preeminente em poder e autoridade. A soberania de Deus é uma consequência natural de Sua onisciência, onipotência e onipresença. O que está sujeito a discordância é até que ponto Deus aplica a Sua soberania - especificamente, quanto controle Ele exerce sobre as vontades dos homens. Quando falamos da soberania de Deus, queremos dizer que Ele governa o universo, mas aí começa o debate sobre quando e onde o Seu controle é direto e quando é indireto.

Deus é descrito na Bíblia como todo-poderoso e onisciente (Salmo 147:5), fora do tempo (Êxodo 3:14; Salmo 90:2) e responsável pela criação de tudo (Gênesis 1:1; João 1:1). Essas características divinas estabelecem o limite mínimo para o controle soberano de Deus no universo, o que significa dizer que nada no universo ocorre sem a permissão de Deus. Deus tem o poder e o conhecimento para impedir qualquer coisa que Ele decida impedir, portanto, qualquer coisa que aconteça deve, no mínimo, ser "permitida" por Deus.

Ao mesmo tempo, a Bíblia descreve Deus oferecendo escolhas à humanidade (Deuteronômio 30:15-19), responsabilizando-a pessoalmente por seus pecados (Êxodo 20:5) e estando insatisfeito com algumas de suas ações (Números 25:3). O fato de o pecado existir prova que nem todas as coisas que ocorrem são ações diretas de Deus, que é santo. A realidade da volição humana (e da responsabilidade humana) estabelece o limite máximo para o controle soberano de Deus sobre o universo, o que significa que há um ponto em que Deus decide permitir coisas que Ele não causa diretamente.

O fato de Deus ser soberano significa essencialmente que Ele tem o poder, a sabedoria e a autoridade para fazer tudo o que quiser em Sua criação. Se Ele realmente exerce ou não esse nível de controle em qualquer circunstância é, na verdade, uma questão completamente diferente. Muitas vezes, o conceito de soberania divina é simplificado demais. Temos a tendência de presumir que, se Deus não estiver dirigindo algum evento de forma direta, evidente e proposital, então, de alguma forma, Ele não é soberano. A versão de desenho animado da soberania retrata um Deus que deve fazer tudo o que pode fazer, ou então Ele não é verdadeiramente soberano.

É claro que essa visão caricatural da soberania de Deus é logicamente falsa. Se um homem colocasse uma formiga em uma tigela, a "soberania" do homem sobre a formiga não estaria em dúvida. A formiga pode tentar rastejar para fora, e o homem pode não querer que isso aconteça. Mas o homem não é forçado a esmagar a formiga, afogá-la ou pegá-la. O homem, por razões próprias, pode optar por deixar a formiga rastejar para fora, mas o homem ainda está no controle. Há uma diferença entre permitir que a formiga saia da tigela e assistir impotente à sua fuga. A versão em desenho animado da soberania de Deus implica que, se o homem não está segurando ativamente a formiga dentro da tigela, então ele deve ser incapaz de mantê-la lá dentro.

A ilustração do homem e da formiga é, no mínimo, um paralelo vago da soberania de Deus sobre a humanidade. Deus tem a capacidade de fazer qualquer coisa, de agir e intervir em qualquer situação, mas muitas vezes Ele escolhe agir indiretamente ou permitir certas coisas por motivos próprios. A Sua vontade é promovida em qualquer caso. A "soberania" de Deus significa que Ele é absoluto em autoridade e irrestrito em Sua supremacia. Tudo o que acontece é, no mínimo, o resultado da vontade permissiva de Deus. Isso é válido mesmo que certas coisas específicas não sejam o que Ele preferiria. O direito de Deus de permitir as escolhas livres da humanidade é tão necessário para a verdadeira soberania quanto a Sua capacidade de decretar a Sua vontade, onde e como Ele quiser.