Qual é o significado da espada de dois gumes que sai da boca de Jesus em Apocalipse 1:16?

O livro de Apocalipse está repleto de simbolismo desde o primeiro capítulo, como vemos em Apocalipse 1:16: "Na mão direita ele segurava sete estrelas, e da sua boca saía uma espada afiada de dois gumes. Seu rosto brilhava como o sol no seu fulgor." A pessoa a que se refere é Jesus, aparecendo em uma forma distinta de Sua encarnação terrena. As sete estrelas na mão direita de Jesus simbolizam os "anjos das sete igrejas" (versículo 20). Mas o que dizer da espada afiada de dois gumes que sai de Sua boca?

A resposta está em Hebreus 4:12, que afirma: "Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que qualquer espada de dois gumes; penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é capaz de perceber os pensamentos e intenções do coração" (cf. Efésios 6:17). Os antigos romanos usavam a espada de dois gumes como uma formidável arma ofensiva, e uma espada metafórica é retratada tanto em Hebreus quanto em Apocalipse. Essa espada de dois gumes simboliza a autoridade e o julgamento de Cristo, responsabilizando a humanidade e penetrando até mesmo em nossos pensamentos.

Será que costumamos imaginar Jesus como um guerreiro empunhando uma espada de dois gumes? Infelizmente, não. Nossa tendência é transformar Jesus em uma figura menos "ameaçadora", favorecendo um ser que não julga e que afirma todas as nossas ações. Entretanto, esse deus careceria de atributos como bondade, santidade, justiça e amor. A justiça é uma coisa boa, e devemos esperar que um Deus bom dê responsabilidade às Suas criaturas e nos responsabilize. A Palavra de Deus revela o Seu padrão, nossas obrigações e nossas falhas. Ela corta nosso verniz de virtude, expondo-nos como os rebeldes que somos, e promete que receberemos uma penalidade justa. Embora acolhamos o pensamento da justiça de Deus ao imaginar pessoas como Hitler, somos mais lentos para aceitar o pensamento sombrio de que também seremos julgados. Contra o padrão divino, inevitavelmente ficamos aquém (Romanos 3:23). É por isso que precisamos de um Salvador.

Talvez precisemos da imagem da Palavra Viva com a espada de dois gumes para apreciar melhor o Messias crucificado. Jesus não era um revolucionário como os irmãos Macabeus, nem um Messias fracassado como Simão bar Kokhba. Em vez disso, o Criador desceu para viver entre a Sua criação, assumindo uma natureza inferior para morrer como um criminoso por nossa causa (Filipenses 2:6-11). O evangelho se torna mais surpreendente quando entendemos quem é o Filho de Deus, não apenas em Sua encarnação, mas muito além da nossa capacidade de suportar. Até mesmo João, que conheceu Jesus na Terra, caiu aos pés de Jesus e ficou imóvel ao ver Jesus em Sua glória (Apocalipse 1:17).

A imagem da espada de dois gumes também nos ajuda a entender o valor da Bíblia. Esse livro que carregamos e até mesmo temos em nossos dispositivos é poderoso e afiado e vem da própria boca de nosso Senhor. Heróis como William Tyndale, John Wycliffe e Jan Hus enfrentaram muita oposição para que pudéssemos ter essa arma em nossas mãos. A Palavra de Deus tem um poder formidável e é capaz de nos transformar em nossa essência. Que privilégio tê-la em nossa posse!