O que é um cripto-cristão?

O substantivo cripto refere-se a "uma pessoa que adere ou pertence secretamente a um partido, seita ou outro grupo" (Merriam-Webster's Collegiate Dictionary, Merriam-Webster, Inc., 2003). Cripto também é um adjetivo que significa "oculto, não declarado ou declarado abertamente". Os cripto-cristãos originais eram crentes judeus que secretamente se consideravam seguidores de Cristo, mas ainda praticavam o judaísmo e frequentavam a sinagoga.

Alguns estudiosos da Bíblia consideram Nicodemos um exemplo clássico de um cripto-cristão. Nicodemos era um membro influente dos fariseus, uma das duas seitas religiosas dominantes de Israel (os saduceus e os fariseus). Os fariseus eram meticulosos em sua adesão à lei judaica. Muitos fariseus se opunham abertamente a Jesus, mas Nicodemos o via corretamente como "um mestre vindo de Deus" (João 3:2). Nicodemos visitou Jesus durante a noite, buscando respostas honestas dEle e aprendendo sobre sua necessidade de nascer de novo (veja João 3:1-21). Mais tarde, Nicodemos defendeu Jesus perante os chefes dos sacerdotes e outros fariseus, que queriam prender Jesus (consulte João 7:40-52).

Nicodemos também estava presente na crucificação e no sepultamento de Cristo, juntamente com "José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus — ainda que em segredo, porque tinha medo dos judeus" (João 19:38-39). Esses dois cripto-cristãos potencialmente prototípicos tiraram o corpo de Jesus da cruz e deram a Ele um enterro adequado. Nicodemos forneceu uma quantidade extravagante de mirra e pomada de aloe vera - o suficiente para enterrar um rei (veja João 19:38-42).

Ao longo da história, a severa perseguição aos cristãos levou à formação de vários grupos secretos e movimentos clandestinos de cripto-cristãos. O cripto-protestantismo é um fenômeno que surgiu predominantemente durante os séculos XVI e XVII na Igreja Católica Romana. Indivíduos ou grupos de fiéis aderiram secretamente às crenças e práticas protestantes, embora professassem externamente ser católicos romanos. Eles faziam isso para evitar a excomunhão, a prisão ou a execução.

Um cripto-calvinista refere-se a alguém que é secretamente calvinista. No século XVI, os luteranos ortodoxos usavam esse termo para depreciar aqueles que romperam com os ensinamentos dogmáticos de Martinho Lutero (especialmente sobre a Eucaristia) para seguir as opiniões mais calvinistas do reformador luterano Philip Melanchthon (1497-1560).

Atualmente, milhares de cripto-cristãos, ou Kakure Kirishitan ("cristãos ocultos"), existem em áreas remotas da nação budista/xintoísta do Japão. Eles são sobreviventes secretos de uma comunidade cristã outrora próspera, fundada por missionários jesuítas em 1549. Por fim, a presença da igreja católica romana foi violentamente erradicada em 1680 por meio de uma campanha de perseguição brutal liderada pelo senhor da guerra japonês Hideyoshi. Sob seu governo, até mesmo o menor indício de devoção cristã poderia levar à execução. Ainda assim, essas comunidades cristãs secretas conseguiram resistir e preservar muitos elementos tradicionais de sua fé até os dias de hoje.

Alguns estimam que milhões de cripto-cristãos estão sobrevivendo hoje em áreas governadas por regimes ateus militantes. Em muitos países, como Líbia, Afeganistão, Iêmen, Somália e Coreia do Norte, seguir Jesus é crime, muitas vezes punível com tortura e morte. Os cristãos dessas nações escondem suas verdadeiras convicções para permanecerem vivos e continuarem levando outras pessoas à fé em Cristo.

O próprio Jesus se escondeu para escapar de ser apedrejado até a morte (João 8:59). A Bíblia parece apoiar a atividade clandestina dos crentes em algumas passagens (ver Hebreus 11:23; Josué 2:6; cf. Hebreus 11:31; 1 Reis 18:4), mas parece condená-la em outras (João 12:42). No último caso, os crentes estavam escondendo sua fé por motivos orgulhosos e egoístas, "porque amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus" (João 12:42-43).

Às vezes, Deus chama os cristãos para honrar o Senhor morrendo por suas convicções. João Batista (Mateus 14:10-12), Estêvão (Atos 7:58), Tiago (Atos 12:2) e Pedro (João 21:18-19) fornecem evidências bíblicas. Entretanto, outros crentes foram e continuam sendo guiados pelo Senhor (e para o Seu propósito) a se esconderem da perseguição como cripto-cristãos.