Deus tem livre-arbítrio?

Primeiro precisamos definir o que queremos dizer com "livre-arbítrio". Para os fins deste artigo, definiremos livre-arbítrio como "a capacidade de uma mente consciente de tomar decisões e fazer escolhas sem nenhuma restrição ou coerção externa". Deus tem uma mente e é consciente; Ele tem a capacidade de tomar decisões e escolher (Ele tem volição); Ele não responde a nenhuma autoridade, não é limitado por nenhuma restrição externa e não pode ser coagido. Portanto, com base nessa definição, podemos dizer que sim, Deus certamente possui livre-arbítrio.

Deus também nos criou com livre-arbítrio; isso faz parte do que nos distingue das rochas e dos animais. Mas a volição que possuímos é de um tipo menor do que a de Deus. O livre-arbítrio sem restrições externas é impossível para os seres humanos, pois sempre temos algum tipo de limitação. Sempre há coisas que não podemos escolher fazer, como bater os braços e voar até a lua. Na melhor das hipóteses, a definição acima sugere que os seres humanos têm apenas a maior parte do livre-arbítrio - existem restrições externas às nossas escolhas - e não o livre-arbítrio completo. Supomos que Deus tenha completamente livre-arbítrio no sentido de que, em Sua onipotência, Ele não é limitado por nada além de Si mesmo. De acordo com Jó 36:23, ninguém diz a Deus o que fazer: "Quem lhe prescreveu o seu caminho ou quem pode lhe dizer: ‘Cometeste uma injustiça’?"

Outra maneira de ver o livre-arbítrio nos seres humanos é que temos um certo aspecto de nosso processo de tomada de decisão que não é limitado pelas leis naturais. Muitos eventos são determinados por leis naturais: uma caneta cai quando alguém a deixa cair (a lei da gravidade) e os pintarroxos constroem ninhos a cada primavera (instinto animal). Mas nenhuma dessas leis naturais rege a escolha de uma pessoa de calçar tênis em vez de sapatos sociais, por exemplo, ou de pedir bacon no café da manhã em vez de salsicha. A humanidade opera em um reino subsidiário ao mundo natural, mas mantém uma autonomia limitada dentro desse mundo.

Deus, por outro lado, tem livre-arbítrio em todos os aspectos. O mundo natural opera de forma subsidiária ao Seu reino. Deus não é limitado por todas as leis naturais; de fato, Ele estabeleceu essas leis e é soberano sobre elas. Deus poderia ter criado o universo de várias maneiras, e a forma como ele existe se deve à Sua escolha. Não era necessário que Deus criasse nada: em Apocalipse 4:11, lemos: "Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque criaste todas as coisas e por tua vontade elas vieram a existir e foram criadas." A questão é que até mesmo o ato da criação em si foi o resultado do livre-arbítrio de Deus: Sua escolha de criar não foi influenciada por nenhuma necessidade ou obrigação. A vontade de Deus é absoluta; Suas ações não são limitadas de forma determinística nem controladas por outra pessoa.

Há certas coisas que Deus é incapaz de fazer porque a Sua natureza perfeita e santa não permite. Tito 1:2 diz que Deus "não pode mentir". No entanto, isso não sugere nenhum tipo de controle externo; o fato de que a perfeição de Deus O impede de mentir identifica uma propriedade intrínseca do próprio caráter de Deus. Deus não pode ser infiel a Si mesmo; Ele não pode quebrar a Sua Palavra; Ele não pode ser menos do que perfeito. Um ser inferior pode escolher pecar, mas Deus não pode - ou Ele não seria Deus.

Além disso, há certas coisas que Deus é incapaz de fazer devido à própria natureza da realidade. Deus pode fazer um quadrado triangular? Não, não se as palavras triangular e quadrado tiverem algum significado real. Deus não lida com absurdos, falácias ou farsas. Ele lida com a realidade; de fato, Deus é a fonte da realidade. Ele é o EU SOU O QUE EU SOU (Êxodo 3:14). Como Criador e Mantenedor de tudo o que existe, Deus definiu o que chamamos de realidade. A maneira como as coisas são é a maneira como Ele escolheu que as coisas fossem.

Os seres humanos têm alguma medida de livre-arbítrio. Mas a volição de Deus é verdadeiramente livre - é máxima tanto em quantidade quanto em qualidade. A incapacidade de Deus de mentir, pecar ou ser ilógico não diminui a Sua liberdade de forma alguma, pois é o resultado de Sua própria natureza intrínseca; influências externas não têm controle sobre Ele.